Ensaio teórico
A palavra infografia, deriva da expressão anglosaxónica “information
graphics”, “popular desde a informatização das redacções de jornais dos
finais dos anos 80 e inícios dos 90” (CAIRO, 2008:21). Assim, a designação,
que vem dos círculos jornalísticos, diz respeito à “visualização de
informação”, podendo ser definida como uma “representação diagramática
de dados” (IBIDEM).
Apesar da
origem jornalística, a infografia mereceu largo desenvolvimento desde então.
Sem que a representação gráfica de informação tenha deixado de ser o seu
principal objectivo, a forma, locais de publicação e formatos
diversificaram-se. Além dos jornais, televisão, internet e outros meios de
comunicação com uma componente visual podem incorporar infografias. À
componente informativa, associa-se a componente contemplativa e margem para
reflectir. Mais do que informar, a infografia que seleccionei “Girls are
smarter than boys” pretende introduzir a reflexão sobre o papel da mulher
na sociedade. A partir de um ponto de vista bem definido, a informação aparece
como comprovativo da premissa lançada no cabeçalho.
A
infografia está dividida em três partes. Na primeira, são apresentados dados
segundo os quais as mulheres, aos 7 anos, têm melhores resultados e maior QI
médio que os homens. Na segunda, são lançados dados que pretendem ilustrar que “girls
begin to question their ability because of their gender”. Na terceira,
aparecem os números referentes a mulheres em ciências e tecnologias, muito
inferior ao dos homens. Assim, a infografia está estruturada para lançar a
reflexão sobre a concepção social do género feminino, sugerindo que esta pode
estar a prejudicar a mulher na luta pela igualdade de sexos, apesar de todas as
suas potencialidades, evidenciadas nas idades mais baixas.
Dada a sua grande
extensão vertical, esta infografia não terá sido construída para ser incluída
num jornal, ou numa publicação escrita. Por outro lado, parece muito bem
adaptada às potencialidades da internet. Esta organização vertical dos dados
vai determinar a leitura, impondo uma ordem lógica e linear. O leitor, assim,
acabará por receber a informação pela ordem escolhida pelo autor.
No que diz
respeito à disposição da informação graficamente, não há muito a dizer. Os
gráficos circulares e de barras, apesar de construídos com cuidado gráfico, não
diferem muito das outras possibilidades gráficas. Para representar o sexo
masculino foi escolhido um tom de azul, como é habitual (esta cor está
associada a este sexo), enquanto que o feminino é representado por laranja – este
já difere do clássico cor-de-rosa, talvez para distanciar o sexo feminino da
sua concepção clássica.
Todas as
fotos utilizadas e trabalhadas em círculo (facilita a integração da imagem,
dada a ausência de vértices, que ilustram confronto) têm uma estética vintage.
Estas imagens fazem lembrar uma época em que a mulher existia como
dona-de-casa, mas que buscava a emancipação e igualdade de sexos. Desta forma
permitem ao leitor olhar para o passado e notar que ainda falta mudar muita
coisa. Duas dessas imagens, uma de um rapaz e outra de uma rapariga, foram
trabalhadas com filtros das cores que ilustram os respectivos sexos,
complementando a pequena indicação existente, auxiliando o leitor na correlação
da cor com o sexo, nos gráficos.
Segundo
John DiMarco, não se devem utilizar duas fontes semelhantes no mesmo trabalho.
A utilizarem-se duas fontes, elas devem ser contrastantes - “só há duas
abordagens: ou exactamente iguais ou completamente diferentes” (2010:83).
Aconselhável é, por exemplo, utilizar uma fonte serifada e uma não serifada.
Enquanto que a serifada confere alguma complexidade gráfica ao trabalho, as
fontes sem serifa têm atributos geométricos que “são facilmente
compreendidos” e, criando “um visual mais pesado”, “estão bem
preparados para criar uma dominância visual através da fonte” (IBIDEM:74).
Por outras palavras, são de leitura fácil e imediata, ao contrário das
serifadas. Assim, verificamos que na infografia analisada, é usado um tipo de
letra não serifado para toda a apresentação de dados e um serifado (e itálico)
nos títulos, e, por exemplo, no ilustrativo “I Can't”, inserido numa
imagem. De realçar que o título é um jogo de fontes, sendo que na sua maioria é
serifado e elaborado. No entanto “smarter than” é não serifado. Desta
forma, a relação, parte mais passível de erros de interpretação, será
assimilada correctamente pelo leitor.
Concluindo,
esta infografia constitui um magnífico exemplar, que informa, semeia a
reflexão, ao mesmo tempo que é bela, dando prazer à sua leitura.