domingo, 8 de abril de 2012

proposta II - recolha fotográfica


 *algumas imagens em falta - revelação




Ensaio teórico

Eric Gill inicia o seu Ensaio sobre tipografia com a seguinte expressão: "Tempo e espaço devem ser tidos em discussão de qualquer assunto humano" (1998:1). Estas duas dimensões definem um dos elementos fundamentais da comunicação: o destinatário ou receptor. A construção de qualquer composição visual deve ter em conta o receptor, a fim de ser eficaz. E nada é mais importante do que enquadrar a composição no espaço e no tempo. Isto porque estas duas questões definem a cultura da massa receptora, que não é igual em Portugal e Inglaterra p.e., e que evolui com o tempo.Naturalmente que há pessoas mais abertas a elementos fora de tempo e que uma tipografia fora de tempo ou lugar pode ser extremamente eficaz dentro de determinados grupos de pessoas, mas em casos de produtos mais globais, que se destinam "a todas" as pessoas, a comunicação deve ter em conta o tempo e espaço.

Neste caso em particular, essa imposição mantém-se. Composição de identificação comercial, a tipografia pretende identificar uma marca de tintas que é, portanto, dirigida à população em geral. Como tal, a utilização de uma linguagem fora de tempo ou espaço, poderia agradar a algumas pessoas, mas não iria transmitir uma sensação de actualidade à marca.

Antes de avançar para a análise do tipo de letra convém analisar a marca em si e o restante tratamento visual. Chamando-se Tintas Leme, esta marca não precisa de recorrer a elementos visuais que o indiquem, como faz, por exemplo, a Robbialac. Por outro lado, a marca associa-se ao tema mar, com o Leme e a imagem da âncora e do leme. Independentemente do motivo da associação, a marca pretende criar no receptor uma identificação com o mar, mais concretamente com o leme, para que assim assimile o nome da marca. Para isso é utilizada a imagem do leme e da âncora, porque "as imagens podem ser percebidas num olhar(...) textos precisam de ser lidos e ler é uma actividade analítica, e por isso, uma actividade que consome tempo"(HILLNER, M. 2009).


Já relativamente à composição tipográfica, está dividida em duas componentes: Tintas e Leme. Enquanto Leme merece destaque por ser o nome da marca, Tintas apenas aparece como identificação do produto que a marca vende. Isso justifica a diferença do tratamento das duas palavras.

  • Tintas aparece com uma dimensão mais pequena e em maiúsculas, tem um prolongamento da barra do A e das hastes do T, o ápice do A não é um vértice, sendo recto com uma espora. O N parece também ter uma pequena espora, no ápice superior, sendo que ambosos ápices são rectos. À parte isso nada a destacar, não existe a utilização de serifas, e mais nenhuma letra tem esporas ou serifas, o S constituído por dois bojos e o I por uma simples haste.

  • Já Leme, tem grande dimensão e escrito em itálico. Nada a apontar se não a forma graciosa como as terminais são utilizadas, e toda a serenidade da palavra. Por outro lado, o L merece um tratamento diferente, sendo, além dos T's em tintas, a única palavra com ascendentes e descendentes de dimensão considerável. O próprio tipo de letra é diferente, tendo um olho, quase dois, pois a extensão da terminal superior quase intercepta a haste. O tratamento desta letra é o mais complexo de toda a composição visual, tentando reforçar a associação da marca ao mar. Assim, o L, mais do que uma letra, assume uma forma muito semelhante a um nó (associado à profissão de marinheiro), a um gancho, ou mesmo, mas de forma mais rebuscada, a uma âncora.


Concluindo, a marca utiliza a tipografia e os restantes elementos visuais para construir uma associação ao mar, tentando obter um maior destaque para a sua marca. O trabalho foi muito limitado, e realmente, colocado num sítio onde passo já há vários anos, só nele reparei quando andava em busca de elementos tipográficos. Portanto, o objectivo da composição visual talvez não tenha sido atingido.










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